Prolegómenos

Salgácio Barbarossa di Coglionazzo distingue-se no panorama editorial Siciliano durante o Reinado Carolingiano de Luís II, rex Langobardorum, com a publicação de ensaios metafisicos, trovas medievais e manuais de culinária molecular. Ostracizado pela aristocracia piemontese e acossado por hordes de parturientes em explosão hormonal, Salgácio escapa a um auto-de-fé; em fuga pela Lombardia, vai adoptando uma série de identidades falsas, acabando por refugiar-se no mosteiro das Carmelitas descalças da vila lombarda de Surcasanta, trabalhando como escrivão, onde finalmente sucumbe a uma embolia escrotal de origem venérea circa 1278.

Este autor deixa um legado difícil de classificar no qual se encontram textos tão diversos como os seus "opúsculos peristálticos", as "23 receitas de cordeiro em escabexe" e o "correio sentimental" dos fascículos avulsos Borda d'Água de Siena. Neste espólio invulgar, e já na fase monástica em exílio sob vários pseudonimos, consta também um índice incunabulístico de ensaios escritos em linguagem encriptada, incluindo, entre outros: pistas para a localização do Santo Graal; a verdadeira identidade do Papa Teobaldi Visconti; a solução da proto-Conjectura de Goldbach; e um manual ilustrado de cunnilingus esotérico.

A existência deste arquivo nunca foi reconhecida em vida pelos seus contemporaneos, atendendo ao conteúdo potencialmente catastrófico para as altas esferas da liturgia Católica e óbvias consequencias legais perante o Santo Ofício, no entanto, a chave para a respectiva descodificação terá sido verbalmente partilhada com alguns dos seus múltiplos filhos bastardos aquando de visitas esporádicas ao Convento onde ermitava, na fase final da sua vida.

O Arquivo Salgácio, esse, permanecerá incólume e anonimo, encriptado nas ilustrações dos Manuscriptos de Voynich, como alegado manual de botânica Medieval.

Séculos mais tarde, um sobrinho-septaneto deste autôr é concebido acidentalmente numa floresta de embondeiros Angolanos por um casal de revolucionários marxistas, ao luar, sob o olhar circunspecto duma manada de palancas e 40 anos depois este individuo é finalmente identificado em Singapura.

Anónimo de hieráldicas, espoliado de haveres e expatriado de terras helvéticas, este descendente bastardo em trivigésima geração da empregada doméstica de di Coglionazzo decide embarcar numa saga Asiática, tentando descodificar o arquivo com base em pistas dispersas pelos seus antepassados. Neste processo vai compilando cartas, pensamentos, florilégios e aforismos que decide esconder das autoridades sob a base metálica dum narguilé marroquino regateado num mercado de Casablanca aquando duma passagem logística pelo magrebe na companhia da sua advogada.

Este acervo - e aqui aplicamos generosamente o termo ao conjunto de escritos referidos - é assinado sob diversos pseudónimos, em função do estado de espírito do autor e persecutivo nível de paranóia, assim, como recurso narrativo e para efeitos estilísticos chamemos-lhe(s) apenas Vladimir. Em Singapura, o consumo de estupefacientes é desencorajado pela aplicação da pena capital, desta forma, Vladimir refugia-se regularmente na periferia malaica e indonesia de Andaman, com o seu narguilé de modo a consumir os proibidos alucinogénicos e selvagens cogumelos equatoriais enquanto investiga as varias ramificações criptográficas possíveis, usando algoritmos matemáticos de modo a decifrar o conteúdo do Graal Salgácio encriptado nas páginas do Manuscripto de Voynich.

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#01 Monção Equatorial: ilha de Langkawi, Abril de 2017