#8 Interlúdio com o Padre Lemaître: Bruxelas, 2 de Junho de 1953

Nota avulsa: pois se Salgácio encarna agora Vladimir, e este último incorpora Salgácio, também o vosso narrador sente um obstáculo epistêmico — uma fractura espaciotemporal que se materializa numa narrativa assincrónica deveras difícil de seguir. De modo a esclarecer esta fractura relativista na nossa narrativa, decidimos efectuar um interlúdio, em colaboração com o Exmo. Padre Georges Lemaître, cosmologista e jesuíta, que entrevistámos em Bruxelas, em 1953, no decurso intemporal deste processo editorial.

EditoraTC:
— É uma honra poder contar consigo a propósito deste assunto melindroso. Com efeito, a estrutura narrativa desta novela parece ter enveredado por avenidas algo complicadas, que carecem de explicação cuidada. Assim, atendendo à sua posição e experiência únicas no quadro da relatividade generalizada, cosmologia e direito canónico, decidimos entrevistá-lo, de modo a poder encaminhar os nossos leitores.

Padre Lemaître:
— Muito obrigado — com efeito, é um prazer poder colaborar com esta vossa iniciativa, neste ponto fulcral da estória. A teoria da relatividade generalizada, inicialmente proposta por Albert Einstein — com quem trabalhei nos idos de trinta — pressupõe uma aparelhagem matemática não trivial e de trato difícil. Trata-se de geometria diferencial e álgebra tensorial, sem as quais é praticamente impossível obter quaisquer resultados interessantes.

No entanto, podemos “simplificar” esses aspectos e centrar-nos no ponto central da vossa estória. O facto de um dos vossos personagens ser um monge copista poliglota é-me também caro, por afinidade escolástica, histórica e pessoal.

– EditoraTC:
— Sua Eminência, é esse mesmo o objectivo. Obsequie-nos com a sua abordagem, por favor.

– Padre Lemaître:
— Pois bem, temos aqui aquilo a que nós, relativistas, chamamos um potencial paradoxo — dois personagens partilhando o mesmo local em épocas diferentes sofrem um “acidente espaciotemporal”. O facto de se encontrarem em Bizâncio sugere alternativas interpretativas interessantes e projecta a complexidade narrativa a níveis panglossianos. Com efeito, para que tal suceda — ou tenha sucedido — ou venha ainda a suceder, consideremos algumas possibilidades teóricas válidas no quadro da teoria da relatividade generalizada.

O Padre pausa por uns segundos, de modo a poder reequacionar as várias hipóteses, e segue o seu raciocínio:

– Padre Lemaître:
— Consideremos assim uma primeira hipótese: um portal relativista no Bósforo. A configuração desta hipótese poderia ser a seguinte: o personagem A, em 1271, e o alter-personagem B, em 2017, seguram, cada um, uma extremidade de um pequeno portal relativista atravessável, ancorado sob o Estreito do Bósforo. Como mecanismo de comunicação, os personagens enviam sinais codificados por lampejos de lanternas através do portal, visíveis apenas a cada personagem na sua respectiva época. Desta forma, surge um paradoxo: se o personagem B, em 2017, avisa o personagem A, em 1271, sobre as tácticas de cerco otomanas que terão sucesso em 1453, o personagem A pode reforçar os muros séculos antes — potencialmente evitando a queda de Constantinopla e, assim, impedindo que no futuro se construa o próprio portal. Este acidente relativista impõe uma linha do tempo autoconsistente, permitindo que o aviso apague a sua própria causa.

– EditoraTC:
— Com efeito, Sua Eminência, essa hipótese aparenta contornos familiares. Presumo haver na literatura de ficção alguns exemplos semelhantes. H. G. Wells, por exemplo.

– Padre Lemaître:
— Talvez. Mas repare na diferença: Wells constrói um aparelho físico - uma máquina do Tempo - e nós, aqui, falamos de eventos no espaço-tempo — é diferente. Permita-me então uma outra hipótese, menos popular e um pouco mais pesada do ponto de vista matemático.

O Padre inclina-se, apoiando os cotovelos na mesa de chá e, começando a falar um pouco mais rapidamente, continua o seu discurso:

— Geodésicas de Gálata-Kerr, ou seja, curvas espaço-temporais... Por exemplo, imaginemos um buraco negro de Kerr giratório, escondido na colina da Torre de Gálata. Neste caso, como mecanismo de comunicação, o personagem A dispara pulsos de neutrinos ao redor da ergosfera em 1271, e o arrastamento de métrica atrasa e desvia esses pulsos, que só emergem em 2017, quando são detectados pelo personagem B. Desta forma, surge um novo paradoxo: se o personagem B ajustar os parâmetros de rotação (usando bobinas gravitomagnéticas futurísticas) com base no primeiro eco para fazer o próximo pulso chegar ainda mais cedo, poderá desestabilizar o buraco negro ou até transformá-lo numa singularidade que destruiria Bizâncio!

– EditoraTC:
— Lamento, mas aqui julgo perder o fio à meada. Os meus conhecimentos nesta área são rudimentares, e Sua Eminência apresenta cenários que não consigo compreender... Eu estudei jornalismo e tenho uma pós-graduação em relações internacionais. Sabe, sou assinante do Jornal de Letras.

– Padre Lemaître:
— Jovem, por favor, não há perguntas estúpidas — pensando para si: — há, no entanto, alguns idiotas bem inquisitivos...
— Reconheço uma certa honestidade intelectual na sua abordagem, que me apraz. Apesar de nada saber acerca destas matérias, V. Ex.ª toma a iniciativa de aprender e questionar — assim, tenhamos fé no Senhor. Ora, pensemos numa terceira hipótese, senão vejamos…

O Padre, visivelmente entusiasmado, dá uma dentada na maçã que trazia no bolso da túnica e contempla, por um momento, o bosque florido de Uccle, onde está instalado o Observatório. Nesta altura, o paternalismo com que interpela o editor torna-se aparente e inevitável; a brutal ignorância com que alunos de Humanísticas são colocados perante questões científicas terá preocupado Lemaître durante a vida, tendo por esse mesmo motivo, enveredado pela física especulativa, matemática e relatividade — assuntos nos quais tirou dois doutoramentos, publicando artigos seminais. Enquanto jesuíta, abraçava as duas culturas, tal como C. P. Snow sugeria nessa altura, de forma socrática, e talvez até neo-tomista. O Padre continua, e questiona-se:

– Padre Lemaître:
— E que tal um cilindro metatelefónico de Tipler?

– EditoraTC:
— Peço perdão, Eminência — um cilindro?

A resignação do jovem editor é aparente nesta fase da entrevista. A sua ignorância cavernícola é inversamente proporcional ao comprimento das suas interjeições, reduzidas agora a grunhidos monossilábicos. O desconforto físico causado pela exposição tão brutal da sua estupidez cetácea repercute-se nos membros superiores. Acabrunha-se sobre o seu bloco de notas, olhando para o chão, envergonhado.

– Padre Lemaître:
— Sim, sim! Um colossal cilindro de Tipler, infinitamente longo e girando perto da velocidade da luz, correndo sob as muralhas antigas de Istambul, gerando curvas temporais fechadas. Neste caso, um mecanismo de comunicação poderia passar por fotões circundando o cilindro repetidas vezes — a cada rotação, chegam cada vez mais cedo no tempo. Ora, jovem, aqui o paradoxo é o seguinte: o personagem A envia uma mensagem comemorativa em 1271; após doze rotações, o fotão chega em 1270 — antes mesmo da construção do cilindro! Se o personagem B decide interromper a rotação do cilindro em 2017, todas as rotações anteriores colapsariam fora da história, apagando a origem da mensagem. V. Ex.ª, esta é a hipótese de que mais gosto. Parece um absurdo teórico, mas tem contornos bem plausíveis para que tal acidente se propicie.

Aqui, o Padre entra em silêncio, dá mais uma dentada na maçã e concentra-se novamente. Detém-se por uns momentos em transe, olhando para cima e sussurrando algo imperceptível em Flamengo. Dispara de seguida, de rajada, as suas ideias deflagram como estrelas cadentes, com uma rapidez de raciocínio e uma imaginação brilhante que o nosso editor jamais testemunhou. O Padre recomeça a sua explicação:

– Padre Lemaître:
— Ora... e como quarta hipótese: que tal um raio gravitacional bicórnico?

– EditoraTC:
— Lamento, Eminência, mas não percebo... um raio com dois cornos?

Até o vosso narrador começa a sentir um certo incómodo pelo enxovalho. Custa-me narrar-vos esta entrevista. Peço-vos perdão — nesta fase, os olhos do editor humedecem, e é agora patente o esforço que faz para não verter lágrimas de auto-comiseração, embaraço e vergonha.

– Padre Lemaître:
— Ouça, calma... Um binário compacto de estrelas de neutrões orbita dentro de uma caverna sob o Corno de Ouro, em Constantinopla, algures em 1271, mas os seus sinais retardados ecoam até 2017! Aqui, o mecanismo de comunicação é o seguinte: o personagem A modula a taxa de transferência de massa via alquimia exótica medieval, para codificar dados na forma de um chirp numa onda gravitacional, e o personagem B decodifica essa modulação séculos depois. Surge assim o paradoxo inevitável: se o personagem B, ao decodificar uma pista sobre uma futura tecnologia, ajustar experimentos locais que enviem subtis perturbações gravitacionais de volta pelo mesmo canal, poderá ele alterar a forma de onda original de 1271 — reescrevendo, assim, o próprio sinal que recebeu.

Aqui, o Padre sacode a sua túnica e esfrega as mãos de seguida, num sinal de puro nervosismo — típico de quem não consegue conter a sua imaginação — um sinal de genialidade que evidencia de forma flagrante, sem mesmo se aperceber. Neste momento da entrevista, o Padre Lemaître está completamente imerso na sua própria torrente imaginativa, que continua entusiasticamente, falando ainda mais rapidamente, incapaz de conter o seu invulgar fluxo mental:

– Padre Lemaître:
— Espere, espere... e que tal um fax quântico de EPR sobre o Palácio de Topkapi?

O editor apenas encolhe os ombros, num sinal de rendição incondicional — é absolutamente impossível acompanhar Sua Eminência, perceber o que diz, imaginar os seus conceitos, muito menos entender os respectivos paradoxos. O jovem editor reflecte internamente, naquelas aulas que evitou, nas matérias que não quis estudar, e no escárnio com que tratava colegas do secundário que falavam com entusiasmo de assuntos científicos. O editor finalmente percebia a enormidade do energúmeno em que se tinha tornado, e essa constatação é-lhe servida da forma mais honesta e sem qualquer pretensiosismo… por um Padre.

"Nossa Senhora... é preciso um Padre para me reduzir intelectualmente a um protozoário" — reflecte o editor, enquanto Lemaître continua, agora num ritmo ainda mais ágil, numa torrente de palavras sem efectuar quaisquer pausas:

– Padre Lemaître:
— Ora, nesta configuração, ambos os personagens compartilham um par de partículas exóticas “EPR” numa câmara secreta sob o Palácio de Topkapi, cada um guardando uma metade. EPR aqui, um acrónimo para Einstein-Podolsky-Rosen, como deve saber. Neste caso, o mecanismo de comunicação poderia ser o seguinte: os personagens transmitem qubits directamente por um canal de EPR. O paradoxo que surge é óbvio: se o resultado da medição do personagem B, em 2017, determina como o personagem A “deveria” ter medido em 1271, criamos um ciclo causal: nenhuma medição tem origem independente. As regras ainda desconhecidas da gravidade quântica simplesmente proíbem o envio desse sinal para o passado e este é o paradoxo definitivo na intersecção de geodésicas relativistas!

– EditoraTC:
— Com efeito, Sua Eminência…
vencido, o editor não consegue sequer encarar Lemaître, olhando vergonhosamente para o chão. Continua:
— … algumas das suas hipóteses parecem plausíveis. Eu sinceramente nada percebo, mas humildemente sugiro, se me permite — não poderá tal paradoxo ser explicado de forma bem mais simples, como um artefacto narrativo? Ou um plágio flagrante, atendendo ao amadorismo do autor?

– Padre Lemaître:
— Nem por isso. Ouça, tive a oportunidade de trabalhar com Einstein e Hubble. Formei muitos relativistas em Lovaina e em Bruxelas. Da minha escola saíram nomes como Babloyantz, Prigogine e Nicolis, por exemplo — alguns deles vencedores do Prémio Nobel da Química e da Física. Sei que alguns hão-de orientar um jovem estudante que nascerá dentro de vinte anos. Um jovem que os acompanhará no Instituto de Climatologia Dinâmica, onde entra ilegalmente aos domingos, de bicicleta, saltando o portão das traseiras com uma pasta de cabedal cheia de artigos científicos sobre teoria do caos. Devido a um erro logístico, esse estudante será transferido para um pequeno apartamento no segundo andar de uma residência universitária destinada exclusivamente a alunas, onde dividirá o espaço com quatro jovens belgas loiras. Entre as suas companheiras contar-se-ão duas marxistas lésbicas, alérgicas a produtos depilatórios e entusiastas do uso de cannabis; uma filóloga flamenga, de seios generosos e tendências suicidas, no piso superior; e, no inferior, uma filósofa experimental especializada em Teoria Arquetipal de Carl Jung. Submetido a má nutrição, consumo excessivo de cogumelos alucinogénios e privação de sono, o estudante permanecerá num estado de sonambulismo eréctil permanente — uma existência psicadélica e narcótica que, por outro lado, desencadeará lampejos de lucidez extraordinária, gerando ideias tão originais que algumas poderão mesmo ser submetidas para publicação científica. É natural que tal acidente possa originar múltiplas situações como a descrita nesta novela, pois presumo que esse jovem seja, de facto, o seu autor. Ora, o jovem em questão habitará mais tarde umas águas-furtadas em Chaussée d'Ixelles, na mesma rua onde vive a família Von der Leyen há séculos, e onde a menina Ursula crescerá — o que me leva a conceptualizar uma nova hipótese: o Crono-Jarro de Von der Leyen.

– EditoraTC:
— Mas como? Por favor, Sua Eminência!
Agora sem qualquer inibição, após ter exposto a sua ignominiosa estupidez, insiste, questionando Lemaître sem pudor, elevando mesmo o seu tom de voz:
— Estamos a conversar em 1953, certo, Sua Eminência? Está a dizer-me que daqui a 20 anos nascerá um indivíduo que, passados 50 anos, vai escrever uma novela na qual os cenários paradoxais que descreve são igualmente aplicáveis? E em simultâneo refere uma menina chamada Ursula Von der Leyen que irá igualmente ocupar este espaço-tempo?

– Padre Lemaître:
— Ouça, vós estudastes Relações Internacionais, certo? E quereis agora perceber Relatividade Generalizada?
O Padre solta uma gargalhada homérica nesta fase — não se contém. No entanto, remata:
— Por favor, só mais este cenário, depois terminamos. Pois nesta nova configuração, o personagem A (1271 CE) e o personagem B (2017 CE) instalam secretamente dois eléctrodos de um gigantesco capacitor electrostático no pátio do Palácio de Topkapi. Eles energizam o jarro captando correntes parasitas da antiga rede de comunicações clandestina da Abwehr usada em Istambul durante a Operação Zeppelin (1942–43) para infiltrar agentes inimigos. Como mecanismo de comunicação, aqui temos descargas de alta voltagem entre os eléctrodos em intervalos de tempo precisamente cronometrados, criando laços auto-intersectantes do campo electromagnético à latitude de Istambul

O Padre faz uma curta pausa, de modo a recuperar o fôlego, lança mais uma gargalhada e remata:

– Padre Lemaître:
— E qual o paradoxo?
Neste cenário, a sincronização do circuito de temporização do capacitor utiliza um rotor de reserva do Schlüsselgerät 41, obtido por agentes da Abwehr durante a Operação Harborage em 1943 — uma missão tão secreta que só sobrevivem registos fragmentários em arquivos distritais de Istambul. Uma missão importantíssima para derrotar as forças nazis. Pois, em 2017, o personagem B avisa que, em 1943, um ataque aéreo aliado planeava destruir os depósitos de petróleo de Ploiești, na Roménia — decisão que, se antecipada em 1271, permitirá aos engenheiros otomanos redireccionar rotas de caravanas e criar depósitos de reserva longe da vista dos nazis. Essas defesas, estabelecidas séculos antes, protegeriam o petróleo de Ploiești, forçando o Eixo a disputar recursos escassos e atrasando significativamente a campanha nazi. Contudo, se essas proteções anacrónicas impedirem o bombardeio de 1943, o Schlüsselgerät 41 nunca seria capturado em Istambul e, portanto, não haveria rotor de sincronização para gerar o pulso temporal em 2017. O Crono-Jarro Von der Leyen impõe uma autoconsistência Novikoviana — garantindo que o rotor tenha sido encontrado e perdido simultaneamente, como o gato de Schrödinger — gerando um verdadeiro paradoxo em que o conhecimento sobre o ataque de Ploiești surge de uma mensagem sem origem. Por último, a menina Von der Leyen, neta predilecta de um coronel das SS, que passeava ingenuamente pelas ruas de Ixelles em criança, transformar-se-á numa harpia sanguinolenta, décadas mais tarde, trabalhando clandestinamente ao serviço da NATO para destruir o futuro projecto de uma União Europeia.

Aqui, o editor, visivelmente abalado com o estado de excitação do Padre Lemaître — contrastando com a sua absoluta incapacidade em seguir o seu fluxo mental — decide terminar o inquérito, reencaminhando o diálogo no sentido do autor:

– EditoraTC:
— Mas Sua Eminência...
agora visivelmente comovido, quase em lágrimas
— Eu entendo que isto me ultrapassa, mas... qual a probabilidade de tais fracturas temporais sucederem, atendendo ao estado de demência do autor ainda não nascido?

– Padre Lemaître:
— É bem possível. Com efeito, um dos meus primeiros resultados durante o meu segundo doutoramento foi mesmo nesta área, dos aparentes “paradoxos”. Em Relatividade, tudo é possível. Os eventos podem suceder em espaços e tempos de forma assincrónica. A própria noção de simultaneidade e co-localidade é relativa. Basicamente, assumindo escalas energéticas hiperluminais, tudo se torna possível — Big Bang, Big Crash, Big Sandwich e Big Partouze numa residência universitária em Bruxelas.

– EditoraTC:
— Com... com efeito, muito obrigado, Eminência. Foi uma honra poder conversar consigo hoje.

O desalento é visível no semblante do editor, que, num laivo fatalista, de voz trémula e olhos visivelmente humedecidos pela torrente emocional a que havia sido sujeito confessa:

“Eminência, toda a minha vida profissional tem sido um embuste. Os chavões e acrónimos decorados, os nomes dos autores Nobelizados, as piadinhas pseudo-científicas, o escárnio com que tratei filósofos e cientistas… culminam agora com a constatação — com o facto — de que nada aprendi sobre física, relatividade… nada”. — remata, limpando as lágrimas do seu rosto.

– Padre Lemaître:
— Jovem, por favor, acalmai-vos, clemência, permita-me apenas uma advertência: talvez seja tarde para estudar Matemática e Relatividade — estas matérias levam décadas a aprender e aprofundar. Assim, dedique-se a publicar opiniões de alguidar, romances de cordel, leia o Jornal de Letras e estude astrologia. Ou mesmo — porque não? — dedicar-se à hortofrutifloricultura - nós todos agradecemos. Ele agradece. — remata, apontando para o Céu.

Assim, algo esclarecidos sobre algumas hipóteses relativísticas, explicativas, regressemos então à narrativa.

Relembremos agora que Salgácio acorda como Vladimir em 2017, e vice-versa. Digamos que ambos os protagonistas “co-habitam” o espaço cognitivo do seu co-protagonista, como testemunhas — e com muito pouca agência. Digamos que se encontram reféns — presos num corpo e numa época que não lhes é de todo familiar, navegando um espaço físico também ele fundamentalmente diferente. 747 anos de diferença, sendo um pouco mais preciso.

Infelizmente, somos também confrontados com pormenores biográficos do autor, através da entrevista gentilmente concedida por Sua Eminência, o Exmo. Padre Georges Lemaître — motivo pelo qual pedimos redobradas desculpas ao(s) nosso(s) leitor(es).

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#9 “Sociedade tri-Testikularis”, Istambul, Junho de 2017